sábado, 16 de julho de 2016

Adeus Marcos...


Parecia sonho, mas foi realidade. Estou cansada de ler e ouvir das pessoas frases clichês como" O gigante acordou", "O dia que entrarei para os livros de história" e outras coisas do tipo. A questão não é se vangloriar por estar saindo para as ruas, a questão na verdade é muito mais ampla, é ir protestar não por 20 centavos, mas por seus direitos.
Ribeirão Preto, 20 de junho de 2013, foi o dia que participei de uma manifestação realmente grande. Ao chegar no ponto de encontro (Esplanada do Teatro Dom Pedro II) me deparei com uma multidão diversificada, mas que aparentemente tinha o mesmo objetivo: Cansados de ficar parados em suas casas estavam, nas ruas. Senti um clima de copa do mundo, mas pela primeira vez debatia-se um assunto sério. Pessoas que eu nem conhecia me ofereceram tinta para pintar o rosto, aceitei. Cheguei de rosto limpo e saí metaforicamente mais brasileira, com riscos verdes e amarelos na bochecha. No meio do caminho um menino cansou de segurar o cartaz que carregava e eu carreguei para ele, da mesma forma quando cansei passei para outra pessoa que também mal conhecia.
Fiquei juntamente com uma galera na comissão de frente(que foi um privilégio e um desprivilegio ao mesmo tempo), fomos aqueles juntamente com centenas de pessoas os primeiros a passar os comandos para uma multidão que passava de 25 mil pessoas. Nunca tinha visto o poder que um aglomerado de pessoas pode causar, os gritos cantados juntos, várias reivindicações, a pacificidade. Foram mais de 2 horas e meia de caminhada totalmente pacífica, bonita e organizada. Estava imaginando o quanto aquilo estava sendo uma experiência única para todos que estavam ali. Porém foi logo após todos cantarem o hino Nacional que a tragédia aconteceu. Um cruel (não tenho palavras para descrever) com um carro típico burguês, sem explicação nenhuma invadiu propositalmente a passeata e atropelou 4 jovens, jovens como eu. A cena horrível que prefiro não me lembrar... Podia ter matado várias pessoas, eu por exemplo, que estava tão perto, perto o suficiente para ver tudo). Uma passeata pacífica levou um jovem de 18 anos para um lugar melhor. Um lugar que não precisamos lutar por injustiças, que não se convive com pessoas loucas e cruéis. 
Ele descansa em paz, enquanto eu, as milhares de pessoas lá presentes, os familiares e amigos dele choramos aqui e lamentamos por esse desastre. E o que começou como um sonho terminou em milhares de pesadelos que invadem noites mal dormidas. O sangue no chão, o desespero, a correria das pessoas, o som do resgate, o medo ao pensar na dor da sua mãe, a revolta sentida pela vontade de querer justiça, os gritos de desespero, os soluços dos amigos que estavam tão perto. A percepção de que não devíamos estar protestando para conseguir coisas que segundo a constituição é dever do Estado nos oferecer. 
Adeus Marcos... Sinto tanto... Não sei o que dizer...

*Esse texto foi escrito alguns dias depois de uma manifestação em junho de 2013, eu tinha 16 anos na época e desde daquele dia sofro com as lembranças daquele dia infernal (sempre guardei esse texto simples com muito carinho, mas nunca quis mostrar para ninguém). Essa semana 3 anos depois, aconteceu um atentado na França em que um caminhão desgovernado invadiu a rua e matou dezenas de pessoas. A única coisa que eu conseguia pensar é que por algum tempo eu já havia sentido aquela sensação de desespero que os franceses e estrangeiros devem estar sentindo (e essa sensação foi uma das piores da minha vida). 

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