domingo, 28 de janeiro de 2018

Entre ex-cunhadas

A saudade está me matando, vamos dizer que talvez eu esteja tendo outra recaída, doí muito e é lá no fundo da alma, uma dor tão profunda que chega quase ser a dor que eu senti nas primeiras semanas de luto. É um aperto que me sufoca, me sinto fraca com vontade de gritar e abraço todas as pessoas na esperança de algum desses abraços me consolar, mas nenhum substitui o seu e fico angustiada de pensar que nunca vou poder te abraçar de novo, começo a chorar. 
Semana passada fui no cemitério, eu e sua irmã, o Cadu se ofereceu para ir junto, mas preferi que fosse uma visita entre ex cunhadas. Eu não ia no cemitério desde a sua morte, não conseguia, era e ainda é sempre muito difícil ficar de frente para algo que comprove que você nunca mais vai voltar. Chegamos no túmulo em silêncio, fiquei em frente a lápide fria que estava cheia de flores, olhei para sua irmã confusa e ela me falou que eram de Cadu, de repente me dei conta que Cadu trabalha muito perto do cemitério e mais tarde descobri que ele sempre vai conversar com você, inclusive sua irmã me contou que quando tentamos ficar juntos ele ia quase todos os dias no seu túmulo pedir conselhos, ele nunca me contou isso, na hora que descobri ri, isso é tão típico de Cadu, mas agora pensando achei trágico e me deu vontade de chorar. Cadu é ótimo, mas você já sabe disso, ele está namorando agora, sabia? Me apresentou a namorada dele no meu aniversário e achei simbólico, primeiro porque a primeira vez que ele tentou ficar comigo foi na minha festa e segundo porque meu aniversário é em finados e eu, ele e todos nossos amigos sempre lembramos de você, mesmo que nos últimos anos evitamos tocar no seu nome nas minhas comemorações.
Fiquei um tempão olhando as flores, passei mais tempo ainda olhando sua foto sorridente do lado da foto do seu avô, comecei a lagrimejar, achei que ia ser mais fácil, pensei que iria desmaiar. Sua irmã e eu trocamos um longo olhar e ela me abraçou, foi um abraço forte, quase como seu abraço e talvez tenha sido por isso que eu comecei a chorar descontroladamente e só depois me dei conta que ela também chorava. 
Ficamos sentadas no seu túmulo com os rostos inchados de choro, ela ficou brincando de bem me quer e mal me quer com uma flor. Conversamos sobre a faculdade, sobre os caras que pegamos recentemente, ela me perguntou se eu ainda te amava, disse que existem amores que nem a morte separa. Me contou que achou um caderno seu de anotações e que nele tinha vários textos com meu nome, perguntou se eu queria para mim de recordação, eu disse que sim. Sua irmã sempre foi um anjo na minha vida, me pergunto como foi que deixei ela escapar, porém me dei conta que foi eu mesmo que escapei porque doía demais estar com ela e lembrar de você. 
Fomos para sua casa, descobri que seu quarto virou um escritório, mas seu violão continua intacto no mesmo lugar e parece que você vai aparecer a qualquer momento para tocar uma música. Jantei com seus pais, nos sentamos na mesa da sala de jantar, conversamos causalidades, sua mãe fez aquela torta de frango que é minha favorita e me deu mil beijos e abraços falando que sentia minha falta. Seu lugar na mesa ficou vazio o tempo inteiro e me lembrei dos jantares de domingo que a gente ficava de mãos dadas por de baixo da mesa ouvindo seu pai falar sem parar sobre o Palmeiras enquanto esperávamos a sobremesa. A verdade bateu na minha cara de uma forma arrebatadora ao perceber que diferente da sua mãe, a minha jamais vai poder fazer de novo seu macarrão com molho branco preferido para você poder comer.
Sua irmã falou do estágio, depois contou para seus pais do meu estágio também, sua mãe sorria para mim e me pediu infinitas vezes que eu voltasse, seu pai me perguntou se eu gostei da namorada do Cadu e eu disse que ela parecia bem legal, a sua mãe sussurrou algo sobre ter torcido para ele e eu termos dado certo, foi quando seu pai me perguntou se eu estava namorando... Me deu um nó na garganta, eu quis começar a chorar, mas só sorri e disse que não. Ele falou que eu precisava seguir em frente, comentei que talvez tivesse um cara na jogada, ele me perguntou se era palmeirense, eu disse que não. Pensei que ele ia ficar decepcionado, mas no fundo acho que ficou aliviado.
Lavamos a louça todos juntos como nos velhos tempos, na hora de ir embora, recebi um abraço coletivo e me arrependi muito de ter me afastado da sua família, pedi desculpas, e me senti idiota, eles sofreram tanto quanto eu, na verdade até mais, e eu fui egoísta. Mas assim como você eles sempre foram muito compreensivos. Sua mãe disse algo de ter perdido um filho e ganhado uma filha, fiquei sem reação...
Na hora de embora quando entrei no Uber comecei a chorar, mas dessa vez foi de alegria. Desde aquele dia comecei a achar que as coisas vão ficar bem, na verdade elas já estão ficando, e talvez essa não seja uma recaída, mas sim o final de uma fase que parece que está ficando bem resolvida. Sinto sua falta, mas estou entendendo que faz parte da vida, talvez esse seja o último texto que vou escrever para você.   

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