Teve um tempo que me achava a
problemática. Não que eu seja normal...
Sou sim a louca, maluca e anormal, mas não me acho problemática pelos motivos
que achava antigamente. Sempre achei que tivesse seríssimos problemas por
não conseguir beber, não fumar, não me sentir bem em uma balada ou em lugares
fechados lotados e com música alta. Eu era a estranha, meus amigos todos
estavam naquela fase de sair todos os finais de semana e estarem cheios de
histórias para contar. Gostavam de falar do porre que tinham tomado no sábado à
noite ou das coreografias que haviam aprendido a dançar. As meninas ficavam
falando sobre que roupa se vestir e quais caras pegariam na próxima festa.
Tentei várias vezes ir a onde
todos iam e agir como eles agiam, não vou falar que odiava completamente todas
as aventuras que vivenciei, mas posso
dizer que trocaria aqueles passeios facilmente por outras atividades que me
deixassem mais confortáveis.
Passei boa parte da minha
adolescência desenvolvendo estratégias para conseguir suportar esses “rolês”,
me perguntava com a cabeça no travesseiro na hora de dormir qual era meu
defeito, por que era diferente da galera? Por que não gostava daquilo? E várias
vezes me perguntei se haveria algum segredo para aprender a gostar daquele
“estilo de vida” ... Nunca obtive respostas até pouco tempo atrás.
Não achei a fórmula mágica para lidar com isso tudo, simplesmente
resolvi falar para quem quisesse ouvir o que eu gostava e o que não gostava. E
parei de fazer o que não gostava. Adeus balada, adeus tolerar bêbados,
adeus sair todos os finais de semana para acompanhar os assuntos do restante da
semana. Virei a anormal assumida, que
não liga para o que os outros pensam (Talvez ainda ligo um pouco, estou
trabalhando nisso ainda) e também não faz o que os outros fazem.
Sou a típica pessoa que vai sem
remorso numa sexta-feira à noite num restaurante de comida japonesa com a
família enquanto todos estão naquela festa descolada... Sou a chata que não
liga de passar um domingo preguiçoso jogada no sofá lendo um livro e escutando
uma música boa. Aprendi a fazer caretas
(Sim sou a mestre nelas) sem me importar com os olhares curiosos.
Mas e os amigos? Então você é anormal, chata e antissocial? Não! Posso
ser chata e anormal, mas não antissocial. Se tem uma coisa que adoro é
conversar e encontrar meus amigos... Mas para isso não preciso encher a cara em
um bar com música alta que me deixa surda e rouca de tanto gritar. Eles vêm
na minha casa, amo ver minha sala cheia de gente, adoro quando nossos encontros
acabam em pizza e panela de brigadeiro. E sobre ficar bêbada, fico as vezes,
mas geralmente é com uma turma exclusiva de amigos, na sala de jantar de casa
com um fundie acompanhado de uma boa garrafa de vinho. Ou num churrasco que
termina em batida com vodka.
Mas você só fica em casa? Não! Eu saio, mas quando eu quero e se estou com
vontade... Não ligo em ir em barzinhos a noite com a galera, mas não os
frequento apenas por obrigação como fiz num longo período da minha vida. Nessas
ocasiões em que saio, fico sóbria e já não me importo em dizer para quem quiser
ouvir que não bebo. Também não ligo em ficar encostada no bar, um pouco longe
da música e da pista para não precisar gritar ao conversar com alguém. E adoro
observar as pessoas, selecionar os que merecem uma chance ou não e conhecer
indivíduos novos. E me divirto muito desta forma.
Quando comecei a agir assim,
descobri que junto comigo existe um grupo de gente anormal, na verdade percebi
que não sou tão anormal assim, que há pessoas iguais a mim que acham
superficial e artificial essa vida que tentei tanto copiar. Percebi que existe sim uma galera que
prefere ficar em casa jogando baralho com os amigos e que faz caretas muito
piores que as minhas. E aí uma luzinha se acendeu na minha cabeça, sinalizando
que eu não estava sozinha no mundo, a partir daí comecei a me sentir mais
em casa, mais eu, mais completa, e me arrependi de ter demorado esse tempo para
mostrar para o mundo minha verdadeira face, que hoje tanto amo como aceito.
E com certeza me tornei uma pessoa mais legal por ser eu mesma, não
preciso me reinventar toda vez que saio, me sinto segura sendo o que sou. E
assim obviamente quando você se aceita passa a ser muito mais fácil as pessoas te
aceitarem.
Agora se alguém me olha com
careta quando digo alguma coisa que é estranho (raramente isso acontece, na maior
parte do tempo o povo acha legal, minhas filosofias de vida), já nem ligo mais, porque sei fazer caretas
muito piores que as desse alguém, e sempre as devolvo complementando-as com sorriso
autoconfiante logo em seguida.