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segunda-feira, 4 de maio de 2020

Feliz foi 2019...

Se eu tivesse escrito esse texto alguns meses atrás teria começado com Feliz 2020, era um ano que me parecia tão promissor, a começar pelo design dos números 20 e 20 em sequência. Passado alguns meses descobrimos que ele seria marcante, traria muitas rupturas, mas ao mesmo tempo dor e sacrifícios, isso porque fomos assolados por uma pandemia. 
Essa trouxe para o mundo um conjunto de sentimentos, inconstâncias entre outras sensações, estamos presos em nossas casas, em quarentena. Alguns há mais de um mês (me incluo nesse alguns) e outros estão trabalhando por aqueles que podem ficar em casa (inclusive gratidão há esses) e tem uma minoria também que foi enfeitiçada pela ignorância de um dos nossos governantes, infelizmente.
Já escrevi muito no meu diário sobre esse momento triste que o planeta está vivendo (inclusive resgatei meu rascunhos em papel e caneta há um tempo), revirei as entranhas, pari dores e ativei reflexões que estavam adormecidas nas profundezas do meu eu.
Engraçado que boa parte da minha vida, prezava pelo eco-centrismo, pela coletividade, pelo amor aos outros e a natureza, por uma sociedade mais justa e sustentável, enquanto eu estava ali lutando pela utopia que eu acreditava, tinha uma maré de pessoas remando no movimento contrário, no egocentrismo... Vivendo a loucura do capitalismo (na qual eu também participo, vide meu modo de vida agitado vivenciado nos últimos anos), na competição, no consumo desenfreado, na desconexão com a natureza. 
Ao viver nessa sociedade e tentando de alguma forma lutar para transformá-la me deixei adoecer, e adoecer metaforicamente, não fiquei doente física ou mentalmente, mas me sentia cansada, desgastada e sem forças para continuar, mesmo intuitivamente sabendo que precisava tomar folego, continuei, continuei firme, sem ceder. Eis que em final de 2018 eu morri, desmoronei por dentro, meu interior se desfaleceu, durante todo 2019 passei de alguma forma tentando me reerguer, em um processo que denominei de cura, e esse texto é sobre isso, é sobre 2019, sobre mim e não sobre os outros. 
Agora que estamos em meio há uma pandemia tive muito tempo para pensar, e comecei a refletir o quanto o ano que se passou foi importante para mim. Comecei  recusando 2 faculdades, essas que eu queria muito entrar e que tinha prestado vestibular com a intenção de cursá-las, mas entendi que se eu ingressasse em outra graduação não romperia o ciclo que vivia há anos; em seguida eu me formei em psicologia, um curso que durante 5 anos me trouxe milhares de sensações que variavam da euforia ao completo desespero. Resolvi continuar trabalhando em um lugar que tinha me acolhido também no ano anterior e que me causava múltiplos sentimentos, mas na maior parte positivos, afinal eu estava com pessoas maravilhosas ao meu redor e estar solitária nunca foi meu forte, esse lugar me deu confiança sobre quem eu era e sobre quem gostaria de ser e fazer. 
2019 também foi ano de viajar, e viajei muitas vezes. Já diziam que as viagens curam a alma...Foram momentos que me fizeram lidar com a minha própria companhia e com tudo que se instaurava dentro de mim. Duas dessas foram internacionais, carimbei meu passaporte com um selo do Equador e um do Peru, duas aventuras nas quais venci vários medos e minhas próprias limitações. Também conheci Itajubá em uma loucura bate e volta de 16 horas de ônibus, senti 3 vezes a brisa do mar em Ubatuba e revisitei São Paulo por mais duas vezes (e minha relação de amor e ódio por lá continuou intensa). 
Esse também foi o ano das oportunidades profissionais, compartilhei meu conhecimento em diferentes palestras para diferentes públicos, foi palestra sobre "Gestão de Pessoas no Terceiro Setor", "Processo seletivo para alunos de graduação", "Como elaborar projetos de carreira para empreendedores"; "Como prospectar comunidades e motivá-las",  entre outros temas, fiquei feliz em perceber que os conhecimentos que adquiri de alguma forma serviram para outras pessoas.
No meio do ano passei no mestrado, foram dias de incerteza , estudo e indecisão sobre o projeto que eu queria escrever, também no mesmo período conduzi vários projetos em educação no meu trabalho que me orgulho demais, conduzir uma área praticamente sozinha foi um aprendizado e tanto.
Por último, mas não menos importante fechei feridas que assolavam meu coração e me dei a oportunidade de viver uma nova história. 
Mas o mais importante desse ano, é que ele me permitiu amadurecer e descobrir que está tudo bem em não ter controle de todas as coisas. É possível viver fazendo menos, 2019 me preparou para desacelerar, me ensinou que isso era necessário, depois dele eu estava pronta para parar, respirar e dar espaço para o meu eu interior se recuperar. Esse "eu interior", inclusive parou de gritar por calma, porque estava decidida a dar a ele o que merecia,  respeito. Estava disposta a entrar em uma viagem individual que envolvia parar, adotar o egocentrismo de olhar para mim e para mais ninguém por um período, que preferi não determinar. 
2020 chegava e prometia poucos planos, porque eu queria ficar quieitinha e pela primeira vez em muitos anos eu estava disposta a cumprir minha promessa, e isso se devia ao fato de ter me preparado longamente para isso. 
Até que imprevisivelmente o mundo fez não só a Bianca desacelerar, mas também a maioria dos humanos que  habitam a terra, enquanto eu tentava de alguma forma adotar o egocentrismo para sobreviver, o planeta e uma pandemia se encarregaram de apresentar o eco-centrismo para a humanidade, o eco-centrismo e os seus princípios passou a estar presente no discursos de muitas pessoas que antes mal haviam parado para ouvir sobre ele. Não quero romantizar, longe disso, toda essa situação não é nem um pouco bonita e eu daria tudo para ela não estar acontecendo agora. 
Mas em um pensamento muito auto-centrado inclusive, não consigo deixar de pensar de uma forma mística sobre o fato das minhas entranhas saberem que eu ia ser obrigada a parar e que ela de alguma forma me preparou. Desacelerar em 2020 iria acontecer por bem ou por mal, o que não sabia era que a pausa não seria só comigo, mas com o mundo inteiro... Diante de todo esse colapso que sorte a minha ter ouvido as profundezas do meu eu e ter tentado passar 2019 me planejando para me isolar. 
Espero que minha cura termine junto com a pandemia, por que o planeta vai precisar de uma multidão para reerguê-lo e espero profundamente poder fazer parte disso, atualmente uma grande parte minha está fechada para balanço e estou tentando respeitá-la, enquanto uma outra está se contorcendo para não arregaçar as mangas já agora para fazer algo, uma vez que eu sei que esse momento exige muita mobilização e ação coordenada, porque os mais pobres sempre sofrem mais, inclusive durante uma pandemia. 
Feliz foi 2019 e espero que possa haver esperança em 2020 e que seu processo junguiano de individuação seja promissor, não só o seu, mas o do mundo!

*Escrito em começo de abril de 2020 em um dos dias de isolamento que eu já não me lembro qual.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Estou esperando o seu lencinho...

Eu estou chorando de novo... Fazia anos que eu não tinha uma recaída assim... Minha vida tinha voltado ao normal, eu estava bem e quase não lembrava de você... Conheci pessoas novas, fiz amigos novos e a maior parte das pessoas que convivem comigo atualmente não sabe que você existiu e de repente eu senti um aperto no peito por perceber que pessoas importantes para mim não sabem da nossa história, eu escondo uma parte de mim que foi tão importante, no caso você... Minha mãe está preocupada comigo, acho que ela não me vê assim desde que você se foi, ouvi ela ligando para sua mãe quarta-feira passada (Falando em quarta-feira, elas são amaldiçoadas são os dias mais difíceis), mas voltando a falar sobre o telefonema, elas choraram, sei disso porque minha mãe estava tentando consolar a sua daqui, mas era óbvio que ela não conseguiu porque ela também estava chorando. Ouvi minha mãe falando que eu sinto sua falta e que eu chorei praticamente novembro inteiro escondida (Ela tem razão, chorei no banho para ninguém ouvir, no ponto de ônibus e em tantos outros lugares que perdi a conta), ela acha que tem alguma coisa a ver com o fato de eu ter viajado sozinha bem na época do aniversário da sua morte, eu falei mil vezes que foi uma coincidência, mas ela não acredita em mim. Eu queria que você tivesse comigo as vezes sabe? Queria que tivesse comigo no dia que eu vi um dos por do sol mais bonito da minha vida e que tivesse lá para me fazer companhia... Queria que meus amigos atuais pudessem ter te conhecido e que eu pudesse falar sobre você sem sofrer. 
Esses dias eu entendi porque ando sentindo sua falta bem agora depois de tanto tempo... É justamente porque chegou a hora de eu seguir em frente, ano passado eu comecei a sentir a mesma coisa que sentia por você mas por outro alguém e foi a primeira vez sabe? (Achei que isso nunca mais aconteceria) Fiz umas análises e percebi que os últimos caras que eu fiquei foram embora de alguma forma, fiquei pensando se escolhi propositalmente ficar com caras que iam embora para repetir o luto que vivi ou se simplesmente queria me proteger de viver um relacionamento que fosse duradouro porque daí não existiria mais espaço para nossa história.
Eu não sei qual é a resposta, mas estou vivendo o momento mais triste e mais feliz da minha vida. De uma hora para outra me arrependi de não contar para os outros sobre nós! Queria contar para todo mundo que me conheceu depois da sua morte, o quanto eu fui a menina  mais sortuda e amada quando estávamos juntos! Queria que soubessem que um dia eu te amei! Que depois de você também gostei de mais dois caras que sumiram da minha vida igual você, mas que quando eu tenho vontade posso visitar as redes sociais deles e as vezes rola até uma curtida nas minhas fotos de instagram. 
Eu continuo chorando, mas dessa vez meu choro tem motivo, fui fazer um limpa no meu guarda-roupa e achei um moletom seu, um daqueles que você esqueceu aqui, uma das poucas coisas que eram suas e que ficaram para mim... O meu irmão entrou bem na hora no quarto e me viu olhando para o moletom, comentou algo sobre você usar ele só no inverno e que a gente está no verão, pegou a roupa das minhas mãos e enfiou no fundo da minha gaveta de novo, em seguida me falou que estava na hora de eu roubar uns moletons do Cadu. Voltei a chorar de novo, porque se você tivesse aqui me falaria que chorar faz bem e em silêncio buscaria um lencinho para mim. Estou esperando esse lencinho tá?


* Escrito em 23/01/2017


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

As bolhas de sabão estouraram antes de 2019

2019 chegou como um trator, passando por cima de tudo e sem ao menos me dar tempo de assimilar 2018... Ainda não sei se isso é um bom sinal ou não. Se por um lado me ajudou a dar adeus a 2018, um ano interminável que me fez um mal enorme, tenho medo dele ter chego em um momento importuno não me dando espaço de assimilar o que aconteceu em 2018, e quando não refletimos sobre nossos erros e sentimentos damos margem para repeti-los, e tudo que não preciso é sofrer novamente. 
Falar de 2018 é muito difícil, ele foi intenso, isso não posso negar... Foi tudo tão insano, que não sei direito nem por onde começar. Como tudo na vida ele foi feito de momentos bons e ruins e ainda preciso assimilá-los para entender se os ganhos foram maiores que as perdas. Tiveram tantas coisas maravilhosas principalmente no primeiro semestre, terminei minha gestão na Enactus com muito sucesso, impacto, amizades e resultados; escrevi um capítulo de livro que foi publicado; comecei três estágios incríveis; aprendi milhares de coisas novas; me aproximei ainda mais da administração uma área do conhecimento que sempre tive vontade de entender melhor; conheci pessoas especiais tanto na vida pessoal como na vida profissional que me ensinaram muito; viajei para Fortaleza com amigos para o Encontro Nacional da Enactus Brasil, voltei para Jericoacoara lugar que tenho um carinho enorme,  continue participando de projetos sociais dos quais me orgulho muito, prestei vestibular de novo, me apaixonei. Mas 2018 também foi um ano de finalizações, de finalizar ciclos para iniciar outros, e no meio do caminho me vi me despedindo das coisas e das pessoas que mais me faziam felizes, me vi me despedindo de mim mesma e isso me custou um preço altíssimo do qual ainda estou pagando.  
Realizações, sucesso e conquistas exigem abdicações e sacrifícios, eu sempre soube disso, mas ainda não sei ao certo se abdiquei das coisas certas em prol do que conquistei, e pensar nisso me angustia muito e me dá vontade de chorar, acredito que o tempo me dirá se fiz as escolhas certas e se não fiz de qualquer forma eu terei aprendido.
Mas por que foi tão ruim? Foi ruim porque não me permiti me amar, me cuidar, respirar, valorizar o que estava construindo e comemorar minhas conquistas... Lembro de um determinado momento do ano colocar a cabeça no travesseiro e perguntar-me o que eu estava fazendo da minha vida, eu me doei para muita gente esse ano, mas me respeitei pouco, esqueci que meu tempo é valioso e que não adianta construir sem poder usufruir. Fiz rotinas intensas de trabalho e parei de me dedicar ao que gostava. Me despedi de forma abrupta de tudo que representava minha história, deixei a Enactus, o Roda de Saia, me despedi da Extensão em Bonfim, do PEIC, eu sabia que isso iria acontecer em algum momento, mas não sabia o impacto que isso teria na minha rotina. Além dos projetos, me afastei dos meus amigos sem perceber, me distanciei das pessoas que mais amava e nem percebi o que foi mais cruel ainda. Minha família também não estava em sua melhor fase e eu não pude dar a atenção da qual ela merecia, lembro de estar só de corpo presente nos cafés da minha avó e de um dia não comparecer em um porque estava tão exausta fisicamente e mentalmente que dormi (me senti péssima por isso). 
As vezes me pergunto se estou com uma percepção distorcida da realidade, odeio assumir para mim mesma que meu ano foi ruim, afinal 2016 e 2017 foram tão incríveis e nos últimos 3 anos venho reclamando que tenho pouco tempo, sempre fiz milhares de atividades simultaneamente, as pessoas me perguntavam como eu conseguia me dedicar a tantas coisas e fazê-las tão bem e eu nunca sabia explicar, só sabia que antes me sentia realizada e completa, mas não sei o que aconteceu que mudou meu estado de satisfação de 2016 e 2017 para angustia em 2018, afinal meu ritmo de vida continuava quase o mesmo e eu conquistei milhares de coisas. Qual foi então a diferença? Tenho algumas hipóteses, pode ter sido o cansaço acumulado dos outros anos, a pressão de ter que lidar com o fim da graduação e me deparar com o futuro (finalizações nunca são fáceis para mim), as eleições presidenciais, um coração partido devido um quase relacionamento conturbado para caralho ou o mais provável a junção de todas as opções anteriores. 
Dezembro fiquei extremamente introspectiva, analisando tudo que aconteceu, me dando conta de todas as coisas que ganhei e perdi. Lembrei que vivi momentos inesquecíveis no Ministério Público e no Assentamento com o projeto das fossas sustentáveis, que criei laços inexplicáveis e aprendi infinitamente no Supera e no Projete, que conheci pessoas maravilhosas, fortaleci algumas poucas amizades, criei oportunidades para minha trajetória profissional, amadureci, cresci muito no âmbito profissional e amoroso também. 
O saldo parece equilibrado, mas não me sinto satisfeita, estou me recuperando ainda, estou me curando de um coração despedaçado devido uma história que me colocou no buraco, de não poder estar com a minha família como gostaria, de por falta de tempo não conseguir estar com meus amigos que se despediram de mim com o fim da graduação, por não conseguir dizer "NÃO" para os outros e me colocar em primeiro lugar.
Estou aprendendo e isso é o suficiente para me manter em pé, eu que sempre fui resistente a abrir mão dos meus valores, me vi perdida deles. Faz três anos que venho prometendo desacelerar, olhar para mim, faz três anos que venho negando isso para mim mesma. Achei que 2019 ia ser diferente, mas me vejo atolada de coisas e ainda é janeiro, me sinto exausta, perturbada e com muito medo de repetir tudo de novo, mas uma tal de intuição insiste em me mostrar que esse não é o caminho. Não é atoa que ela me fez escrever esse texto. Seguimos firmes no propósito autocuidado para 2019. 

domingo, 28 de janeiro de 2018

Entre ex-cunhadas

A saudade está me matando, vamos dizer que talvez eu esteja tendo outra recaída, doí muito e é lá no fundo da alma, uma dor tão profunda que chega quase ser a dor que eu senti nas primeiras semanas de luto. É um aperto que me sufoca, me sinto fraca com vontade de gritar e abraço todas as pessoas na esperança de algum desses abraços me consolar, mas nenhum substitui o seu e fico angustiada de pensar que nunca vou poder te abraçar de novo, começo a chorar. 
Semana passada fui no cemitério, eu e sua irmã, o Cadu se ofereceu para ir junto, mas preferi que fosse uma visita entre ex cunhadas. Eu não ia no cemitério desde a sua morte, não conseguia, era e ainda é sempre muito difícil ficar de frente para algo que comprove que você nunca mais vai voltar. Chegamos no túmulo em silêncio, fiquei em frente a lápide fria que estava cheia de flores, olhei para sua irmã confusa e ela me falou que eram de Cadu, de repente me dei conta que Cadu trabalha muito perto do cemitério e mais tarde descobri que ele sempre vai conversar com você, inclusive sua irmã me contou que quando tentamos ficar juntos ele ia quase todos os dias no seu túmulo pedir conselhos, ele nunca me contou isso, na hora que descobri ri, isso é tão típico de Cadu, mas agora pensando achei trágico e me deu vontade de chorar. Cadu é ótimo, mas você já sabe disso, ele está namorando agora, sabia? Me apresentou a namorada dele no meu aniversário e achei simbólico, primeiro porque a primeira vez que ele tentou ficar comigo foi na minha festa e segundo porque meu aniversário é em finados e eu, ele e todos nossos amigos sempre lembramos de você, mesmo que nos últimos anos evitamos tocar no seu nome nas minhas comemorações.
Fiquei um tempão olhando as flores, passei mais tempo ainda olhando sua foto sorridente do lado da foto do seu avô, comecei a lagrimejar, achei que ia ser mais fácil, pensei que iria desmaiar. Sua irmã e eu trocamos um longo olhar e ela me abraçou, foi um abraço forte, quase como seu abraço e talvez tenha sido por isso que eu comecei a chorar descontroladamente e só depois me dei conta que ela também chorava. 
Ficamos sentadas no seu túmulo com os rostos inchados de choro, ela ficou brincando de bem me quer e mal me quer com uma flor. Conversamos sobre a faculdade, sobre os caras que pegamos recentemente, ela me perguntou se eu ainda te amava, disse que existem amores que nem a morte separa. Me contou que achou um caderno seu de anotações e que nele tinha vários textos com meu nome, perguntou se eu queria para mim de recordação, eu disse que sim. Sua irmã sempre foi um anjo na minha vida, me pergunto como foi que deixei ela escapar, porém me dei conta que foi eu mesmo que escapei porque doía demais estar com ela e lembrar de você. 
Fomos para sua casa, descobri que seu quarto virou um escritório, mas seu violão continua intacto no mesmo lugar e parece que você vai aparecer a qualquer momento para tocar uma música. Jantei com seus pais, nos sentamos na mesa da sala de jantar, conversamos causalidades, sua mãe fez aquela torta de frango que é minha favorita e me deu mil beijos e abraços falando que sentia minha falta. Seu lugar na mesa ficou vazio o tempo inteiro e me lembrei dos jantares de domingo que a gente ficava de mãos dadas por de baixo da mesa ouvindo seu pai falar sem parar sobre o Palmeiras enquanto esperávamos a sobremesa. A verdade bateu na minha cara de uma forma arrebatadora ao perceber que diferente da sua mãe, a minha jamais vai poder fazer de novo seu macarrão com molho branco preferido para você poder comer.
Sua irmã falou do estágio, depois contou para seus pais do meu estágio também, sua mãe sorria para mim e me pediu infinitas vezes que eu voltasse, seu pai me perguntou se eu gostei da namorada do Cadu e eu disse que ela parecia bem legal, a sua mãe sussurrou algo sobre ter torcido para ele e eu termos dado certo, foi quando seu pai me perguntou se eu estava namorando... Me deu um nó na garganta, eu quis começar a chorar, mas só sorri e disse que não. Ele falou que eu precisava seguir em frente, comentei que talvez tivesse um cara na jogada, ele me perguntou se era palmeirense, eu disse que não. Pensei que ele ia ficar decepcionado, mas no fundo acho que ficou aliviado.
Lavamos a louça todos juntos como nos velhos tempos, na hora de ir embora, recebi um abraço coletivo e me arrependi muito de ter me afastado da sua família, pedi desculpas, e me senti idiota, eles sofreram tanto quanto eu, na verdade até mais, e eu fui egoísta. Mas assim como você eles sempre foram muito compreensivos. Sua mãe disse algo de ter perdido um filho e ganhado uma filha, fiquei sem reação...
Na hora de embora quando entrei no Uber comecei a chorar, mas dessa vez foi de alegria. Desde aquele dia comecei a achar que as coisas vão ficar bem, na verdade elas já estão ficando, e talvez essa não seja uma recaída, mas sim o final de uma fase que parece que está ficando bem resolvida. Sinto sua falta, mas estou entendendo que faz parte da vida, talvez esse seja o último texto que vou escrever para você.   

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Sobrevivi na tempestade da calmaria

É quase Natal, entrei de férias ontem, essa semana foi muito nostálgica, fiquei pensando em muitas coisas, entre elas no meu terceiro ano do ensino médio... Talvez tenha sido porque encontrei amigas daquela época ou porque alguns fantasmas apareceram. Fiquei pensando o quanto eu mudei de lá para cá, existe uma nova Bianca, mas ao mesmo tempo a mesma Bianca continua aqui. Fiquei buscando uma semelhança entre 2013 e 2017, e entre os dois cheguei a conclusão que esses foram anos muito intensos... Não só intensos, mas foram épocas tumultuadas da minha vida que eu mal tive tempo de respirar. Em 2013 vivi em função dos vestibulares, não tive escolha. Em 2017 minha vida se resumiu em estágios e projetos sociais, porém diferente de 2013 escolhi viver no caos, um caos louco mas que ao mesmo tempo era muito bom.
No começo de 2017 pensei que seria impossível ter um ano que alcançasse o ano de 2016, 2016 tinha sido incrível, foi maravilhoso, eu viajei muito, conheci pessoas maravilhosas, vivi uma experiência intensa em uma ocupação do Movimento dos Sem Tetos, entrei para entidades estudantis, me permiti ser alguém que eu queria ser, mas que até então não era. Foi um ano repleto de aprendizados, descobertas e liberdade. Achei que tinha sido o melhor ano vivido que eu tinha lembranças, fiz as pazes com a psicologia, me permiti conhecer coisas e pessoas novas, fui presenteada com milhares de oportunidades, mal sabia que 2016 era só o começo de uma fase incrível da minha vida e que 2017 seria mais louco e abençoado ainda do que ele, fui impressionada novamente. 2017 conseguiu ser tão bom quanto, talvez até melhor, a diferença é que só fui me dar conta do quanto foi bom agora que está acabando. 
Só agora que desacelerei é que estou começando a entender o que ele significou, estou assimilando esse turbilhão de sentimentos. 2017 foi ano de viver intensamente, de dormir pouco, de trabalhar no final de semana, de não ter tempo para respirar. Mas ao mesmo tempo foi ano de ver todos os projetos que eu me envolvi se materializando, colhendo frutos, andando, saindo do papel. Ano de valorizar minha vida e as oportunidades que eu tenho, de me conectar com a pobreza, com a inocência das crianças, com o empoderamento feminino, com assuntos dos mais diversos, empreendedorismo, empreendedorismo social, economia solidária, sustentabilidade, consumo consciente, mão de obra justa e valorizada, educação, trabalho escravo entre muitas outras temáticas. Foi ano de pesquisa intensa, mas também de prática, foi captação de recursos, networking, possibilidade de crescimento, assumir cargo de liderança, lidar com pessoas que pensam diferente de mim, aprender e me permitir conectar com assuntos e temas que eu não tinha domínio, foi aprendizado, desencanar de notas de faculdade, chegar atrasada nas aulas e usar com louvor meus 30 por cento de faltas. Explorei o mundo, saí da bolha da universidade, trabalhei em comunidades na boca do tráfico, entrei muitas vezes na favela para buscar crianças. Na vida profissional atendi 27 pacientes na clínica (tem horas que nem acredito). Ouvi e lidei com histórias de todo os tipos, desde luto, depressão, ansiedade, assassinato, suicídio até dificuldade de aprendizagem. Também lidei com gente rica, político, empresário. Aprendi que se pode aprender com qualquer um, com qualquer experiência em qualquer ocasião, basta querer e estar aberto para isso. 
No meio do caos que foi fazer tudo isso, fiquei muitas madrugadas acordada, tomei muito chá, ouvi muita música e só Deus sabe como consegui ter tempo para fazer muitas amizades, sair com pessoas especiais, ver meus avós toda sexta-feira e me apaixonar. O cosmos está de bem comigo, estamos conectados numa energia muito boa. 
Parece que tudo foi lindo, mas não foi... Julho foi um pesadelo, minha avó ficou internada mais de um mês e ver alguém que se ama no hospital é algo muito horrível, acho que foi o mês que mais desliguei de tudo, mas passar dias inteiros no hospital, me fez me aproximar mais ainda dela, me fez me conectar novamente com a brevidade da vida e com a necessidade de se viver mais o presente e menos o passado/futuro, acho que isso me deu forças para continuar e seguir em frente. Além desse episódio, muitos foram os momentos durante o ano que eu só queria poder ter tempo para dormir e descansar, ou até mesmo que eu queria jogar tudo para o alto ou sumir, nem tudo foi flores e o cansaço muitas vezes apareceu e não quis ir embora. Mas agora fazendo uma retrospectiva desse ano, acho que tudo foi tão mágico que para conseguir colher os frutos, era natural que eu passasse por tanta barra, e não foram poucas, mas elas foram proporcionais aos desafios que me permiti viver e que sorte a minha poder ter as vivido. 
Sou tão grata ao universo, que me mostrou que podemos sair da inércia e que ao sair dela o mundo sozinho se compromete de nos mostrar o caminho a seguir, ele trata de nos dar as oportunidades. Me orgulho da Bianca que eu pude ser, da intensidade desse ano que me ensinou tanto. Descobri que a Bianca intensa que está dentro de mim, pode ser externalizada e que tem um conjunto de pessoas que gostam dela e se beneficiam das suas ações. 
A calmaria não veio, mas no turbilhão descobri a força que tenho e espero que essa força tenha sido útil para o universo e para outras pessoas que vivem nele além de mim.

*Escrito em 23 de dezembro de 2017

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Tudo bem

Levantei da cama antes dele, peguei meu shorts jeans que ficou esquecido jogado em cima da minha cadeira em frente a escrivaninha e aproveitei para pegar uma camiseta limpa, abri a gaveta mas minhas roupas estavam todas sujas e acabei pegando uma blusa cinza dele que eu gostava tanto e que ficava quase que como um vestido em mim. Entrei em baixo do chuveiro, deixei a água fria cair por todo o meu corpo, minha cabeça latejava. Só conseguia pensar em que diabos que tinhma feito com que eu fizesse tudo aquilo. Não que eu estava arrependida, eu só estava pensando o quanto tinha bebido na noite passada para conseguir começar o ano daquele jeito. Me enxuguei, fiquei um bom tempo dentro do box tomando coragem para sair dali. Trocada e limpa fui para o quarto, sempre soube que ele tinha o sono pesado, mas me surpreendi por ainda não ter acordado, eu dormi mal toda espremida na minha cama pequena e me surpreendi com ele dormindo tão bem e profundamente, me senti feliz por isso. Sentei no chão perto da cama e fiquei olhando-o  dormir, passaram 2 horas, meus cabelos já tinham se secado quase que completamente, estava lendo um dos livros que ele tinha me trazido na noite passada, desde que nos conhecemos a longos anos atrás sempre trocávamos livros, costumávamos conversar sobre poesia, e no natal me deu um buque de flores e um livro do Mário Quintana, não bastando isso ontem declamou para mim minha poesia preferida "Canção de Garoa" tentei me lembrar quando foi que eu havia contado que era a minha preferida. Ele sonolento me deu bom dia, eu dei risada e respondi com um "bom dia, flor do dia", jogou o travesseiro na minha cara, dei um sorriso e me lembrei mais uma vez que o seu irmão sempre comentava que ele acordava de mau humor. Nós dois sabíamos que estávamos de ressaca, me perguntei se ele tinha controle de tudo, e já tinha planejado como a noite passada terminaria ou se tinha ficado tão surpreso com o que acontecera como eu havia ficado. "Ei, você está com a minha camisa, que eu ia pedir de volta para colocar agora" eu ri internamente, ele mal sabia mas desde que peguei essa camisa meses atrás, não tinha intenção nenhuma de devolvê-la, respondi rindo "Acho que você vai ter que ficar com sua camisa suja e amarrotada de ontem a noite mesmo, se quiser posso te emprestar o ferro de passar roupa", levantou pegou a camisa amarrotada resmungou algo sobre passar roupa ser perda de tempo e foi direto para o banheiro. Voltei para cama, deitei de lado como sempre dormia e senti que minha cama já não tinha totalmente meu cheiro. Sorri feliz, mas cometei o grande erro de olhar para o meu mural de fotos na parede e me deparar com uma foto que eu não deveria ter visto, comecei a chorar descontroladamente, uma mistura de ódio, com culpa e dor me dominaram. Ele deve ter ouvido meus soluços do banheiro porque veio ao meu encontro, me dando um abraço apertado, fiquei me perguntando se não estava curioso para saber o porque eu estava assim, mas quando olhei para ele, seus olhos estavam fixos na mesma fotografia que eu tinha olhado minutos antes, e assim como eu, vi que sentia dor e tristeza no seu olhar. A sombra pairava sobre nós. Pedi desculpas, ele me pediu desculpas em seguida e percebemos que nenhum de nós deveria pedir desculpas. Ficamos em silêncio por um tempo e nossa conversa silenciosa me fez perceber que não deveríamos deixar que os fantasmas nos perseguissem. Levantei devagar fui até o mural e tirei a foto de lá, ele me olhou com um olhar de dúvida, eu disse que ia ficar tudo bem, senti um abraço apertado e choramos juntos. Estávamos acostumados a chorar, foi assim nos últimos 5 anos, mas agora eu gostava de pensar que mais riamos do que chorávamos desde que resolvemos ser um casal. "Seu cabelo está com um cheiro muito bom" respondendo eu comentei que tinha mudado de shampoo, enquanto as lágrimas de ambos secavam trocamos um beijo, comecei a lembrar da noite passada, na verdade comecei a lembrar desse primeiro mês que passamos juntos e me senti tão feliz, estava tão contente, contente como a muito tempo não me sentia. Abracei ele mais forte, ele me olhou nos olhos e falou "Eu te amo", fiquei surpresa, era a primeira vez que falava isso para mim, sorri e no meio do sorriso saiu um tímido "Eu também". Por um instante soube que ia ficar tudo bem e senti que um anjo sorria para gente .

* Escrito em 03 de janeiro de 2017

domingo, 25 de junho de 2017

A minha montanha russa


Sabe eu resolvi voltar... Podia ter postado algo que já anda pronto, mas preferi vir aqui e escrever algo aleatório mesmo... Minha vida tá tão corrida, mas eu não posso reclamar porque eu estou fazendo tantas coisas maravilhosas e eu ando tão feliz... Feliz entre aspas, porque têm semanas que são bem difíceis, porém acho que elas são consequência de estar sempre me desafiando, quem se desafia se depara com problemas e com cansaço (Assim espero)...
Semana passada eu tirei um tempo para mim, aproveitei o feriado e fui para São Paulo, engraçado isso, porque quem me acompanha sabe que eu tenho uma relação conflituosa com Sampa, pois bem, contrariando todas as minhas expectativas a cidade cosmopolita me fez bem. Eu me desprendi de tudo e de todos como a muito tempo não fazia, me senti leve. Difícil foi voltar para a realidade na segunda-feira. Aí sim o pesadelo me dominou, eu tenho esse sério problema, sofro absurdamente todo período em que volto para realidade, é assim todo começo de semestre pós férias e todo começo de aula pós feriado prolongado, isso me faz pensar que talvez eu não esteja na graduação certa, ou que talvez existisse algum lugar que eu não sei qual que estaria me fazendo mais feliz. 
Voltando segunda-feira, terça-feira e quarta foram dias horríveis, dias que eu queria fingir que não existia, que eu queria dormir e esquecer de tudo e de todos (mil trabalhos acumulados, provas e problemas para resolver), porém quinta-feira me senti em uma montanha russa, digo isso porque de uma tristeza profunda passei para uma alegria inexplicável.
Quinta eu tive atividades de todos os projetos importantes que eu participo, desde o projeto com crianças, o projeto com mulheres até a noite que eu dei aula. E essa quinta confusa e atolada de coisas boas me mostrou o quanto eu participo de projetos especiais, o quanto indiretamente eu mudo a vida de muitas pessoas e essas pessoas mudam completamente a minha também, e daí pensei que todo esse cansaço, as milhares de vezes que me sinto sobrecarregada, que eu não tenho tempo para nada valem a pena, porque eu deixo pessoas mais felizes e elas também me deixam.
Tem semanas que eu fico triste por não conseguir jantar com meus pais, por não conseguir dormir o quanto eu preciso, por tentar a mais de um mês marcar para cortar meu cabelo, mas não encontrar horário, de não poder ler meus livros de cabeceira, de não poder escrever e atualizar aqui, de meu quarto estar a maior bagunça e eu não ter tempo de arrumá-lo, de sair todos os dias as 7 horas da manhã e voltar só as 21, 22 horas para tomar banho, jantar, ler textos da faculdade e dormir. 
É sofrível? É, as vezes eu penso em desistir? Várias vezes, mas daí me lembro que estou aprendendo a ser uma pessoa melhor, que eu estou aprendendo a repartir, a liderar, a administrar, a ajudar pessoas que precisam e a mobilizar outras pessoas que podem ajudar aquelas que precisam, estou aprendendo a amar e a ensinar. E como presente eu recebo feedbacks maravilhosos do tipo recadinhos que eu sou uma boa professora ou que querem me colocar num potinho e levar para casa (Mano eu chorei de emoção com esses bilhetinhos dos meus alunos quinta-feira). Como eu posso parar de fazer as coisas que eu mais amo na vida? Como eu posso escolher um projeto para abandonar? Não tem como, eu amo todos igual e são eles que me fazem esquecer da graduação que muitas vezes é puro sofrimento, ela sim era o que deveria escolher largar... E talvez seja por isso que eu não escrevo mais aqui, que eu deixei de tomar café da manhã (eu sei isso é péssimo) ou que nos finais de semana eu hiberno de tanto cansaço. Tento pensar que essa fase não vai voltar e se eu não aproveitar agora, quando vou poder aproveitar? Então pessoas que me amam e que eu amo, tentam ter paciência comigo, por favor! Serão só mais 6 meses, 2018 já está chegando e com ele vem a calmaria, prometo!

domingo, 26 de março de 2017

Nós

Nós. Nós somos enrolados. Nós são enrolados... Eu sou um nó, nós somos dois nós... Silêncio. Silêncio. Cidade grande. Existe silêncio na cidade grande? Barulho, sirenes, buzinas, gritos! Mas um infinito silêncio entre nós... Eu sou muda, você é mudo... Entramos no metrô... Linha amarela? Linha verde? E continuamos nos olhando como dois desconhecidos. Por alguns minutos me esqueço que esse nós existe há mais de 6 anos. Quando foi que viramos um nó? Que nos tornamos um só que existe num grande vácuo?
O vácuo da cidade grande. O vácuo das pessoas correndo apressadas, do medo de ficar sozinhos, de desatar os nós. Esses que ao serem desatados criariam um rebuliço em nossas vidas e nós deixaríamos de existir... Vamos, vamos, o metrô chegou na estação.

domingo, 5 de março de 2017

Geleia no verão


Ela ficou na cama o dia inteiro, ouvindo a chuvinha de verão bater na sua janela, assistiu alguns filmes enrolada nas cobertas, depois leu algumas páginas do seu livro de cabeceira. Levantou e já passava das quatro da tarde, se olhou no espelho para praguejar sobre uma espinha no queixo. Estava radiante, todos diziam que aqueles meses a fizeram bem, seus cabelos estavam pretos, suas pernas longas estavam definidas e havia tomado sol de verão. O que ninguém sabia era que estava despedaçada por dentro. 
Pensou em vestir um shorts, desistiu, ficou só de calcinha e com uma camiseta que quase ia aos joelhos. Fez um coque no alto da cabeça, foi para o banheiro lavou o rosto, escovou os dentes e encarou de novo a espinha, mentalmente agradeceu por não ter que sair de casa e nem precisar passar corretivo (Padrões fúteis de beleza). Colocou os óculos de armação pretos, sua miopia beirava os 5 graus, se sentiu triste por não enxergar como todo mundo. 
Saiu andando descalça em passos lentos para a cozinha, fez pão na frigideira e chá mate. Tentou sem sucesso abrir o pote de geleia de framboesa, não conseguiu... Se sentiu fraca... Ficou com vontade de chorar, não tinha ninguém em casa para abrir para ela, estava sozinha... De repente teve uma súbita crise de riso, era tão idiota sentir vontade de chorar por não conseguir abrir um pote de geleia, ela se sentiu boba. Maldita TPM. 
Comeu em silêncio. Cansou do silêncio. Resolveu colocar música. Silva começou a tocar. "Eu sempre quis dizer" invadiu a cozinha. Ela gostava dessa música, lembrava do dia que um alguém tinha cantado para ela em seus ouvidos, foi em 2015, 4 dias depois do seu aniversário. Eles eram amigos e na época ela muito burra não entendeu nada (Lerda). Deu um sorriso pequeno e agradeceu por ele ter esperado pacientemente por um ano para que ela entendesse o que aquilo significava. 
Talvez se ela ligasse para ele agora, certamente ele poderia vir abrir o pote de geleia para ela, mas achou melhor aprender a abri-lo sozinha. Respirou fundo, comeu o pão torrado com manteiga mesmo e mandou uma mensagem por whatsapp dizendo: "Querer não é amar, mas é sempre um bom começo..." Ele pareceu chocado e respondeu: "Eu quis tanto ter você, quando você não me quis, e agora a gente é feliz e ponto". Ela acha que Silva virou trilha sonora oficial da história dos dois... Não sabe se ri ou se chora. Ela coloca a culpa na TPM e não no coração partido.  

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Recomeçar, oh palavrinha difícil.

Recomeçar, oh palavrinha difícil. Essa semana eu perdi uma pasta de fotos e não foi qualquer pasta foi a pasta de hospedagem de imagens do blog que ficava salva no google fotos/ google drive/ picasa. Até agora eu não sei bem o que aconteceu e desencanei de tentar entender. Só sei que foi impossível recuperá-las e que TODAS as fotos do blog desde 2012 SUMIRAM, inclusive os layouts antigos que ficavam salvos nessa pasta também. 
Com essa perca pensei em desistir do blog, a princípio achei que era o destino me mandando uma mensagem, porque esse ano comecei a estagiar na faculdade e já vinha há um tempo pensando em desativar o blog por causa disso, mas não tinha coragem (infelizmente minha profissão exige um certo distanciamento e privacidade). Não é atoa que andei fazendo algumas alterações no meu perfil por exemplo... 
Pois bem como podem ver eu não desisti, estou aqui. Quando percebi que tinha perdido todas as fotos de imediato não fiz nada, pensei em chorar, mas sabia que nada iria adiantar, respirei fundo e segui em frente, porém dois dias depois ao abrir o blog descobri que todas as fotos tinham desaparecido e fiquei paralisada ao ver ele todo branco. Foi aí que a ficha caiu, senti dor, desidratei de tanto chorar, me permiti fazer drama mesmo sabendo que não ia adiantar nada! Foram 5 anos de história apagados e quem me conhece sabe que sou uma pessoa extremamente apegada a lembranças. Resolvi desistir, mas depois ponderando essa decisão percebi o quanto esse espaço é/foi importante para mim, queira ou não ele é parte da minha vida e perder as fotos me fez perceber isso. 
Não vou parar, ainda não sei direito o que vou fazer, devagar estou tentando voltar as fotos no lugar (é um trabalho exaustivo procurar e colocar foto por foto) além disso quando chegar em meados de 2014 eu provavelmente não vou ter mais backups das imagens, estou me esforçando para resgatar o máximo possível.
Com esse episódio aprendi algumas lições, inclusive percebi uma coisa importante, não tem porque esconder parte de mim e tampouco desistir e excluir tudo isso por causa dos meus estágios, afinal essa sou eu, tenho meus medos, inseguranças, dúvidas e opiniões como qualquer outra pessoa (sou humana) e além disso nem sei ainda se vou seguir a psicologia como profissão, é bem provável que não, então acredito que deixar de escrever é me precipitar sem necessidade. 
Esse texto era mais um desabafo e tinha como objetivo sinalizar que o blog está cheio de imagens faltando e que se alguém entrar por aqui e vê-lo assim entenda o que aconteceu. Estou recomeçando, não está sendo fácil, mas estou tentando e até que está sendo legal. 
Acho que esse texto pode ser um pouco motivacional/ auto ajuda também, recomeçar é sempre difícil mas ao mesmo tempo muitas vezes é necessário. Doí perceber que tudo na nossa vida é volátil, que podemos perder tudo em um piscar de olhos e que não temos controle sobre nada. Porém saber perder é um grande aprendizado, pelo menos esse episódio de perda me fez me sentir na primeira série aprendendo a escrever de letra cursiva, a gente quebra a cara, mas quando vê tá escrevendo tudo de novo e bonitinho. 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

O desejo de viajar!


Fiquei pensando esses dias de onde surgiu o desejo de viajar, da onde surgiu essa vontade louca que me domina ultimamente de querer sair conhecendo o mundo... E aí refletindo sobre tudo isso comecei a pensar que devo alguns agradecimentos a pessoas que influenciaram direta e indiretamente o que chamo de "processo de descobrir o que é a arte de viajar". 
Confesso que essa vontade é recente, nunca fui uma adolescente que se interessou pelo assunto, lembro que não cogitei nem um minuto em escolher uma festa de quinze anos no lugar de uma viagem para disney. Todos os meus colegas de ensino médio viajavam para o Estados Unidos nas férias (eu não tinha aquela vontade imensa de hoje para conhecer outros países) e eu não fui em nenhuma excursão que minha escola organizava. Ainda não sei ao certo quando foi que uma luzinha na minha cabeça se iluminou e eu quis desbravar o mundo e hoje agradeço muito por ela ter se acendido. 
Acredito que foi um processo, uma vontade que se iniciou sabe-se lá porque e foi tomando força ao longo dos anos sem que sequer eu percebesse. As vezes fico pensando se sempre tive esse desejo, mas ele estava inconsciente, adormecido, escondido e a vida fez com que o mesmo viesse a tona atualmente ou se simplesmente as experiências e pessoas ao meu redor foram me influenciando e me levando para essa realidade. Seja como for, existiram pessoas que lapidaram esse meu desejo, como se lapida diamantes contribuindo para essa vontade só aumentar. 
Que eu tenho consciência, as duas primeiras pessoas que contribuíram com esse processo foram duas meninas da qual nem conheço que foram numa Semana da Psicologia da qual participei e falaram sobre a experiência delas em ir para África fazer trabalho voluntário, lembro que na época as achei loucas e pensei o que se passava na cabeça de um brasileiro que saia do seu país para ajudar outras pessoas, sendo que aqui no Brasil, na minha própria cidade, mas especificamente no meu bairro tinha uma monte de gente que precisava de ajuda. Mesmo que na época eu não dei a mínima para o que elas falavam, hoje as agradeço, porque quando surgiu a oportunidade de fazer um voluntariado em outro país me lembrei delas e das coisas legais que elas contaram naquele dia.
Outra pessoa importantíssima nessa história foi uma colega que estudou comigo no primeiro ano da faculdade, se chama Carol (nunca mais ouvi sobre ela, não tenho notícias suas e ela mal sabe o quanto foi importante para mim), Carol foi uma pessoa corajosa, ela abandonou o curso de Psicologia na USP em 2014 para fazer um mochilão pelo Brasil e hoje refletindo admiro muito sua atitude. Mas lembro que quando descobri que ela tinha trancado o curso por causa disso, a achei louca, irresponsável, não só eu tive essa reação como vários outros amigos, mas mesmo assim no fundinho lembro de querer ter sua coragem e mais que isso de querer ser louca como ela, dar o foda-se e deixar tudo para trás. A quarta pessoa importante foi minha amiga Amanda da faculdade também, um dia, no começo de 2015, estávamos conversando sobre o ato da Carol e ela disse que jamais se imaginava fazendo aquilo, que ela queria se formar, arrumar um emprego e deixar para viajar nas férias. Parece bobo mas naquela hora uma coisa bateu na minha mente e eu só tive a certeza que não queria ser como a Amanda, fiquei muito confusa porque nessa época eu também não queria ser como a Carol (afinal eu como já disse a achava louca), mas foi a partir dessa conversa que algo se despertou em mim, era como se talvez eu precisasse me descobrir ou se pelo menos a minha opinião sobre a atitude da Carol começasse a mudar.
E eu comecei a me descobrir mesmo, porque no final do semestre de 2015 me inscrevi para apresentar trabalhos científicos em dois congressos em cidades diferentes (acho que foi o jeito que encontrei para viajar). Agora lembrando eu nem sei porque quis ir nos congressos, mas a vontade de ir em um deles foi tão espontânea, não tive nenhuma motivação específica, minha professora orientadora estava na sala dela falando do congresso e eu ouvi, fiquei interessada, entrei no google e resolvi que queria ir, fui perguntar para minha professora se era aberto para qualquer um e ela disse que eu podia apresentar se quisesse, não pensei duas vezes. Importante ressaltar que meus pais foram e ainda são figuras importantes nesse processo, eles nunca viajaram muito, mas sempre me incentivaram a viajar, então acho que eles também entram nessa lista.
Mas voltando a falar das viagens que aconteceram por causa dos congressos, não tem como eu descrever o quanto elas foram importantes para dar aquele empurrãozinho que faltava para eu descobrir que queria muito mesmo viajar. Eu descobri que o Brasil era muito grande, que tinha muita coisa para eu ver e que não queria morrer sem conhecer. 
A sétima pessoa que conheci eu não lembro o nome, participou e palestrou num encontro de educação que eu ajudei a organizar. Fiquei encantada pelo cara, sua palestra foi sobre uma volta pelo mundo que tinha feito e as experiência profissionais que ele adquiriu, lembro dele mostrando as fotos da sua viagem que envolveu desde a Amazônia até a Índia. Eu tinha acabado de chegar de Pirenópolis, tinha acabado de andar de avião pela primeira vez, várias coisas borbulhavam na minha cabeça e poxa ouvir que ele tinha dado uma volta ao mundo e que tinha sido maneiro, já não foi tão assustador quanto ouvir que a Carol ia dar uma volta pelo Brasil, não sei se eu já estava mais acostumada com a ideia, se estava contagiada porque tinha voltado de uma viagem e entendia um pouco o que era a sensação de se entregar a lugares desconhecidos ou se simplesmente me permiti a aceitar aquele ladinho meu que admirava as pessoas que viajavam. Sei que por algum motivo aquela palestra foi um divisor de águas na minha vida, já não tinha preconceito com quem largava tudo para viajar.
A oitava pessoa que contribuiu muito para o processo realmente se expandir foi a Lari, minha amiga também da faculdade, ela estava na AIESEC, e estava numa área responsável por enviar intercambistas para outros países e naquela coisa de precisar cumprir metas, ela me convenceu a ir conhecer um projeto (a Lari era muito marketeira), hoje só tenho agradecer a ela, primeiro por ser marketeira, por me dar ferramentas para algo que eu vinha querendo, mas não sabia como realizar (que era viajar para outro país) e segundo por junto comigo procurar países, projetos, cidades, documentos e me ajudar a concretizar uma viagem do qual nem sabia direito que eu desejava e que realizei. 
A nona pessoa que eu conheci e faz parte dessa história foi um belga que encontrei num hostel do Chile (ele se chamava Nicolas e não sei porque não trocamos contato...). O achei muito parecido comigo em vários aspectos e fazia 7 meses que o menino estava viajando pelo mundo, então pensei se ele pode por que eu não posso também? Me peguei falando, caramba quero ser como o Nicolas. E o milagre aconteceu, porque essa foi a primeira vez que aconteceu o movimento de deixar de simplesmente achar legal aquelas pessoas que viajavam o mundo para querer ser uma dessas pessoas que viajam o mundo. Brinco que faltava aquela tal de identificação sabe? Quando encontrei alguém parecido comigo que fazia isso, percebi que eu podia fazer também, idiota né?
Acho que a décima e não menos importante pessoa foi um personagem chamado Chris de um filme... Alguém aí já assistiu Na Natureza Selvagem? (Fiquei numa bad monstruosa depois de assistir). Lógico que eu diferente dele, não sou tão radical e não conseguiria me imaginar indo para um lugar para ficar completamente sozinha, pessoas são importantes para mim, como podem ver com esse texto. Mas hoje eu consigo entender o que motivava ele a viajar, o que motiva milhares de pessoas a colocar a mochila nas costas e mais que isso, hoje entendo porque o meu eu do passado achava que as pessoas que viajam eram loucas, era porque simplesmente nunca tinha tido a experiência de viajar antes e não sabia o que viajar proporciona para nós meros humanos.
Encerro aqui... Só queria terminar dizendo que esse texto era simplesmente para agradecer as pessoas que fizeram parte desse processo, tem tantas outras que também me ajudaram, me apoiaram e estiveram comigo que eu não citei aqui, mas sou profundamente grata. Valeu pessoas! E agora vamos programar nossa próxima viagem por favor!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Aceito as flores?


Hoje eu ganhei uma flor... Queria te contar isso, por mais que as vezes me sinto um pouco louca em escrever para você... Eu gosto de flores, na verdade gosto de ganhar flores, mas você já sabia disso, lembra dos buques que me dava? Fico triste em pensar que ganhei várias suas e as únicas que te dei você não pode ver... Têm dias que penso em voltar no cemitério para te levar mais algumas, mas sou fraca e me odeio por não conseguir ir lá e ver seu túmulo frio... 
Mas voltando a falar do presente me deu uma vontade louca de te contar que ganhei um crisântemo vermelho, fiquei tão feliz em ganhá-lo e ao mesmo tempo pensei que se tivesse vivo eu poderia estar ganhando crisântemos seus e não de outro alguém. Acho que você ficaria muito feliz se soubesse quem me deu, na verdade já sabe né? Penso que a onde quer que esteja está nos apoiando e torcendo por nós... Choramos muito juntos nos primeiros meses sabe? Eu perdi um amor e ele um amigo... A dor não era igual, mas muito semelhante e têm momentos que sua sombra paira no ar e nos sentimos mal por estarmos tentando ficar juntos, ele me lembra você e com certeza eu também... Tem época que é tão difícil de lidar com o fato de você não estar mais aqui, a dor volta como se fosse uma faca afiada, me dilacera, me deixa com um buraco vazio e me pego chorando nos momentos mais inapropriados, final de ano é uma delas, novembro e dezembro foi assim, são os meses mais difíceis... Me sinto andando numa corda bamba na beira de um precipício, e tem dias que acho que vou despencar (Mas juro que estou melhorando, desde que eu comecei a fazer mil coisas, o final de ano ficou mais fácil)... 
Os nossos amigos fazem o possível para não me deixar sozinha nessa época do ano, eles não saem daqui de casa, mas desconfio que é tão difícil para eles quanto é para mim e mais que isso as pessoas sempre nos associaram, então por mais que eles não me contam acho que olham para mim e sentem sua falta, isso é uma droga, todos se fazem de forte, mas eu sei que é só na minha frente... Mas já faz tanto tempo e nossos amigos, minha família e até sua família me falam que você gostaria de me ver feliz e eu tenho certeza que é exatamente isso que deseja e é por isso que aceitei a flor, dei pulinhos de alegria ao vê-la e todo mundo está torcendo para que eu fique com o seu amigo (nosso amigo, que agora parece que é mais que amigo, isso é tão estranho). 
Me sinto muito culpada, e não é porque estou ficando com um dos seus amigos (Essa culpa já se foi, foram longos meses de superação e alguns anos de terapia no passado), mas porque eu ganhei uma flor dele e a verdade é que eu gostaria de ter ganhado de outra pessoa. E eu te odeio por me fazer passar por toda essa situação que parece nunca ter fim! Porque se você tivesse aqui, eu não teria que me apaixonar de novo e não ia ter que estar recebendo crisântemos de um e desejando que eles fossem me dado por outro, estaria recebendo de você e ponto final.  As coisas iriam ser tão mais fáceis e eu não estaria sofrendo duplamente, por você e por eles... Mas eu sei que não é sua culpa, me desculpa, a verdade é que sinto sua falta... Eu só queria te contar que voltei a receber flores e me permiti aceitá-las, acho que isso é um bom começo, o que acha? Só queria que você me ajudasse agora a me decidir se espero o outro cara me dar crisântemos (pode ser que ele nunca me dê) ou se simplesmente aceito os do seu amigo e dou uma chance para ele... 

sábado, 21 de janeiro de 2017

Viagens: Meu muito obrigada a Jericoacoara (Em fotos)


Em outubro eu fiquei quase 15 dias viajando... Mas Bianca e a faculdade? As viagens aconteceram por causa da faculdade, na verdade foi ela que deu aquele empurrãozinho sabe? Fui em dois congressos, um seguido do outro, na verdade foi uma dobradinha não pré meditada que acabou acontecendo... Um tempo atrás eu descobri que eu poderia utilizar congressos acadêmicos como pretexto para viajar (Se você faz faculdade e nunca foi em um congresso, não perca a oportunidade de ir, eles foram os que mais me ensinaram durante a graduação, além de ser o lugar que te possibilita conhecer os caras fodas especialistas que você costuma ler e estudar na faculdade durante as aulas)... Deixando o pretexto de lado, fiquei uma semana no Rio de Janeiro, no interior (Numa cidadezinha fim de mundo chamada Seropédica que tem a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), além disso passei 3 dias no Rio de Janeiro (Minha primeira vez por lá) e do Rio fui direto para Fortaleza, em Fortaleza também fiquei uma semana e de lá fiz minhas malas (Meu mochilão na verdade) e aproveitei que estava no nordeste (Minha primeira vez também) para conhecer Canoa Quebrada e Jericoacoara. Conhecer Jericoacoara era um sonho, eu tinha certeza que iria para lá de qualquer jeito, com meus amigos ou não. Por que estou contando tudo isso? Porque Jericoacoara foi muito especial. Meus amigos voltaram de Fortaleza para Ribeirão Preto e eu fiquei em Jericoacoara sozinha. E sabe aquele friozinho na barriga? Pois bem, eu fiquei meses em dúvida se eu adiantava minhas passagens para voltar com os meus amigos ou se eu encarava e ia sozinha mesmo e realizava um sonho... Por fim fui sozinha mesmo e meu Deus foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida (Não que eu queria ir sozinha, se meus amigos tivessem comigo eu teria ficado tão feliz quanto) o fato é que não deixei de fazer algo que eu queria muito por falta de companhia e me orgulho muito por ter conseguido.


Jeri foi o primeiro lugar que fui só eu e minha mochila, não tinha ninguém para poder contar, não tinha empresa de viagem e não tinha ninguém me esperando. Era eu por mim mesma, engraçado isso porque quando fui para a Argentina era eu por mim mesma também, não conhecia ninguém e nem sabia onde ia ficar, mas sabe quando as coisas eram diferentes? Tinha alguém me esperando lá mesmo que eu não conhecia, eu tinha um objetivo que era trabalhar em uma ONG e sabia que ia conhecer outros intercambistas que estariam na mesma que eu... Jeri não tinha nada disso! As situações eram diferentes e não consigo me decidir qual que senti mais medo e insegurança... O fato é que se eu não tivesse ido para Argentina certamente não teria coragem de ter ficado em Jeri completamente sozinha, acho que uma experiência levou a outra, ou melhor a Argentina me possibilitou amadurecer o suficiente para conseguir tomar a decisão de ficar sozinha em Jeri.


E sério Jeri é mágica, aquela vila é maravilhosa e tem uma certa magia e energia que é inexplicável, talvez tenha a ver com minha vibe no momento, mas desconfio que todo mundo que estava por lá estava sintonizado na mesma estação que eu. Por mais que tenha ido sozinha não me senti assim em momento nenhum, fiz várias amizades, conheci gente super alto astral, tive conversas filosóficas, treinei meu inglês e me senti rodeada de pessoas good vibes.



Percebi que tem muita mulher que viaja sozinha sim e que quando se encontram elas se unem. Fiquei num hostel muito legal e me senti tão aliviada quando entrei no quarto e vi que iria dividi-lo com 5 meninas com histórias de vida parecidas com a minha e ao mesmo tempo completamente diferentes. Foi instantâneo nos abraçamos como irmãs e não nos desgrudamos mais... Quem via achava que nos conhecíamos de longa data. E foi tão mágico! Nunca vou esquecer do pôr do sol que vimos todas juntas, das risadas, dos crepes franceses que comemos, da Jeri noturna, dos gringos que fizemos amizades, dos banhos de mar e de poder ser quem eu quisesse ser...



Voltei de lá renovada e com a certeza que sou mais forte do que imagino, que posso fazer coisas que dizem que eu não posso e descobri que muitas vezes somos nós mesmos que nos limitamos por medo, insegurança e por não acreditarmos que somos capazes. Por pouco eu não fiz minha mala e voltei com meus amigos, por pouco eu não conheci a Jeri noturna, quase que a insegurança e o medo me venceram e foi tão bom poder me libertar dos dois e dar uma chance para mim mesma...
  


Obrigada Jeri, por me mostrar que posso mochilar e mais que isso por ter feito uma pequena revolução dentro do meu ser! Já quero voltar para você <3

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Tapioca Cupida

São duas e quarenta e cinco da manhã, a madrugada impregna a casa com um silêncio impotente, estão todos dormindo, exceto nós dois. Consigo ouvir nossas respirações nas pausas constantes das conversas, por mais que estejamos em uma distância segura. Estrategicamente esperei ele sentar num dos sofás da sala e só depois sentei no sofá oposto, ele só deu um suspiro e não comentou absolutamente nada. O celular toca. Escuto Cadu falar com sua mãe, é a segunda vez que ela liga, acho fofo a sua preocupação, ele afasta o celular do ouvido e sussurra para mim entre dentes "Ela não está acreditando que estou aqui", sussurro de volta que a mãe dele tem seus motivos para não acreditar. Vou até o sofá que está sentado, sento no braço do móvel e peço para passar o celular para mim. Cadu faz uma cara engraçada, e vejo no seu rosto um misto de incompreensão, confusão e insegurança. Eu entendo o que está sentindo, porque nem eu sei que bicho me mordeu para fazer isso... Depois de trocar algumas palavras com a mãe dele, não consigo me decidir quem ficou mais feliz, se foi ela ou Cadu que me agradece com um sorriso que deixa aparente todas as suas covinhas. Na hora que desligo e vejo o sorriso percebo o grande erro que cometi, acho que dei esperanças e foi em dose dupla, para ele e para sua mãe. 
Me pergunto mentalmente o porque está aqui ainda e que horas pretende ir embora, não que eu queira que ele vá, mas diferente de mim Cadu não só estuda como trabalha, não está de férias e amanhã é ainda quarta feira. "Clara você quer que eu vá embora?", dou um pulo do braço do sofá, ainda não me acostumei com essa capacidade dele de saber o que estou pensando, olho atentamente para o seu rosto e respondo "Você quer ir?" e antes que pudesse me responder seu estômago ronca... "Você está com fome", ele nega, "Está sim, para de mentir para mim", Cadu demora para responder, eu sei que está morto de fome, mas não vai dar o braço a torcer, então levanto apressada do sofá, "Acho que vou fazer uma tapioca para mim, quer uma?" e quando vejo já estou na cozinha.
Enquanto pego os ingredientes, falamos coisas bobas, estamos rindo e eu nem sei porquê. As vezes nas últimas semanas fico tentando me lembrar quando foi que nos aproximamos tanto e que nossa relação ficou tão leve, tão boa. Acho que sempre fomos assim e eu nunca percebi, afinal são anos de amizade. 
Paro em frente ao fogão e de repente sinto que tudo começou a ficar muito quente, abaixo a chama do fogo numa tentativa de diminuir o calor, mas aí me dou conta do porque a cozinha ficou tão apertada e abafada de uma hora para outra, a explicação não é o fogão, mas Cadu que aproveitou meu descuido para se aproximar mais do que eu permitiria se estivesse prestando atenção. Se aproximou tanto que quando me dei conta senti uma mão puxando meus cabelos para livrar meu ouvido e em seguida uma boca sussurrando nele: "Achei que você soubesse cozinhar", eu um pouco desconcertada, tentando mentir falei "Eu sei", ele estava se divertindo, eu podia sentir, mesmo de costa sabia que estava com aquele sorriso malicioso no rosto, "Não é o que parece, Clara" e colocou uma das mãos na frigideira numa tentativa de me chamar a atenção para a panela, e foi nessa hora que me dei conta que estava presa entre ele e o fogão o que me fez sentir mais calor ainda e que minha tapioca estava toda destruída e quebrada em mil pedacinhos, derrotada me virei e praguejei "Caralho Cadu, você me desconcentrou", ele  franziu a sobrancelha com olhar inquisidor e proferiu "Me vinguei, afinal você faz isso comigo todos os momentos que estamos juntos", tenho certeza que fiquei vermelha e que ele viu, de um tempo para cá Cadu fazia isso sempre, flertava toda hora de propósito e mesmo assim não havia me acostumado com as cantadas.
Quando vi, ele tinha assumido o comando do fogão e estava fazendo as tapiocas. Duas para ele, uma para mim, a dele com queijo duplo, e a minha sem queijo por causa da minha intolerância a lactose. Comemos em silêncio. Eu sabia que ele estava pensando em algo. Ele sabia que eu estava pensando em nós. Porque ele sempre sabia o que eu estava pensando e eu não. "Você deve estar pensando o quanto eu sou um idiota né?" Pela primeira vez errou, não tava pensando sobre o fato dele ser idiota, a verdade era que depois de meses estava cogitando dar uma chance para nós. Cogitei isso por vários motivos, estava cansada de estar sozinha, quem eu queria não necessariamente iria me querer, com Cadu as coisas eram leves, engraçadas e felizes, ele era meu amigo e por último e não menos importante naquele momento simplesmente desejei estar comendo tapiocas com ele de madrugada numa cozinha apertada muitas outras vezes. 
"Clara, por que você está me olhando assim?", "Acho que talvez eu mude de ideia a respeito de eu e você", "Aí meu Deus, se eu soubesse que para você era tão importante que eu soubesse cozinhar teria vindo fazer tapiocas meses antes...", nós dois rimos e eu tive a certeza que deveria tentar, por mim, por ele, por nós e talvez também pelas suas tapiocas que eram maravilhosamente deliciosas.   

domingo, 27 de novembro de 2016

O eu te amo de João e Maria


O gritou ecoou. Eu te amo, porra. Ela só escutou o porra... Ele vinha contando todas as suas tentativas de falar eu te amo, ao todo já tinham sido 25. 25 fracassos, 25 vezes que o coração dele batia tão forte que parecia que iria explodir, 25 vezes que quase foi, mas não foi. Ele se chama João. Ela se chama Maria. Eles são amigos. E você conhece essa história melhor do que ninguém. É a típica história de dois amigos que se apaixonam. O medo das coisas se misturarem, de estragar a amizade, de ser o trouxa que ama sozinho. Ao mesmo tempo o sentimento de sofrer, sofrer por não querer se afastar mas ao mesmo tempo em precisar se afastar porque doí muito estar toda hora junto. 
Maria tinha a besta mania de se apaixonar por amigos, era aquela coisa idiota de ser só amigos e quando ela percebe está sofrendo horrores, ela só não quer isso de novo para sua vida... Talvez ela tenha escutado o eu te amo de João, mas preferiu fingir que só tinha ouvido o porra... O grito continua ecoando...

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Turbilhão em bolhas de sabão...


Minha cabeça está um turbilhão (me pergunto porque vou escrever tudo isso aqui. Se eu estivesse escrevendo em um diário certamente esse seria um dos textos desabafos de lá, mas faz 8 meses que parei de escrever  e agora por força do hábito resolvi escrever aqui o que escreveria lá, não sei se é uma boa ideia, primeiro porque provavelmente eu não vou publicar e a segunda é porque tenho a sensação que ao escrever no diário estaria guardado para todo sempre e aqui não, o virtual é tão mutável e tão mais fácil de se perder, só eu tenho essa sensação? As vezes tenho vontade de ler conversas que tive por MSN e não tenho mais o histórico, daí penso que se eu trocasse cartas não teria esse problema, ou teria porque provavelmente só teria as cartas recebidas e não as escritas... devaneios,.. te pediria desculpas por eles, mas esse texto é só para mim mesmo, então não vou pedir...) 
Sobre o turbilhão, não sei o que aconteceu, mas um tsunami passou por aqui durante um dia(zinho) comum, que tinha tudo para ser um dia como qualquer outro e não foi... E desde aquele dia as coisas se transformaram em uma grande catástrofe... Está tudo quebrado dentro de mim, devastado, machucado e agora é como se eu tivesse decretado estado de emergência e precisasse levantar, limpar os entulhos e me reconstruir. (Porque é tão difícil escolher? Tomar um decisão e não outra é sempre um grande problema na minha vida... Eu nunca gostei de perder oportunidades, eu quero agarrar o mundo e talvez seja por isso que é tão complicado para mim ter que optar por uma coisa ou outra... Devaneios de novo)
Nesse nevoeiro de segredos revelados, histórias nunca antes ditas, situações que eu não sei lidar, a angustia me pegou de uma tal maneira e eu percebi que preciso me reinventar, fico pensando como uma história de outra pessoa totalmente alheia a gente pode repercutir tanto em nossa vida? As histórias de pacientes, amigos, família, todas elas se misturaram numa só semana e eu me vi nessas histórias de uma forma tão absurda que entrei num estado de calamidade, acho que agora entendo porque dizem que psicólogos tem que fazer terapia, lidar com os problemas dos outros não é nada fácil, eles te consomem, você se identifica, sofre e muitas vezes o problema do outro afeta a sua vida de uma forma que você não tem o menor controle, pelo menos é o que está acontecendo comigo nesses últimos dias... Um segredo de alguém, me fez descobrir um segredo de outro alguém importante para mim, esse segredo de outro alguém repercutiu na minha vida de uma tal maneira que agora muitos pontos fazem sentido, porém eu não estou sabendo digeri-los... Paralelo a isso o destino me fez assistir um filme super problemático que me deixou mais estabilizada ainda, juntando tudo isso tive um insght da minha própria vida fazendo supervisão de um caso clínico de uma paciente e juntando tudo isso tenho duas decisões importantes para tomar, preciso decidir quais estágios vou querer fazer ano que vem e preciso tomar vergonha na cara e dar uma resposta para outra pessoa que devo uma satisfação... Isso seria muito pouco se junto ainda não tivesse uma infinidade de problemas para serem resolvidos no projeto social do qual eu participo (que resolveu dar tudo errado nessas duas últimas semanas) ou se eu não estivesse em fim de semestre com mil trabalhos para entregar,incluindo a defesa da minha monografia e um trabalho assustador sobre abuso e violência doméstica em uma criança (que me faz chorar todas as vezes que penso nele)...
A resposta é meio obvia, em meio a essa maré de problemas, acaba que só resolvo os problemas dos outros e os meus ficam estagnados,  eu mal tenho tempo para parar, respirar e decidir o que fazer, fico sempre em segundo plano e enquanto estou estagnada aqui, os sentimentos estão virando grande bolhas, bolhas que poderiam ser leves como bolhas de sabão, mas essas não são, elas são de chumbo, ou melhor são ácidas, me corroem de pouquinho em pouquinho, me machucam, me causam dor, me assustam, me amedrontam... Mas acho que elas são importantes para me fazer crescer, me fortalecer... 
Depois de ler o que escrevi até aqui, cheguei a uma única conclusão: Resolvi desacelerar, respirar fundo e manter a fé nessa vida e nessa Bianca que está se constituindo em meio ao caos, porque parece que não mas depois de toda tempestade vem a calmaria não vem? Sempre soube que escrever é terapêutico, me sinto bem melhor agora... 

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Não existe amor em SP


Eu passei uma semana em São Paulo, já tinha ido para lá, mas nunca para conhecer a cidade realmente, sempre tive uma ideia romantizada da grande metrópole, a cidade cultural, cheia de possibilidades e histórias, recheada de pessoas e lugares. Mas não foi essa cidade que conheci, São Paulo me causou um conjunto de sentimentos contraditórios que beiraram da angustia ao desespero. Não quero negar que existe um lugar bonito, cheio de manifestações culturais geniais, que existem pessoas que se amam e oportunidades únicas, não quero que ninguém me massacre e me julgue por eu dizer que não gostei de SP, enxerguei o belo que existe lá, mas ele não foi suficiente para mim. Mesmo sabendo de todas as coisas boas, as coisas ruins não me permitiram deixar de lado, as sensações obscuras que tive nesses 7 dias. As pessoas correndo como robozinhos no metro, se empurrando, olhando para os pés, aquela não troca de olhar, homens e mulheres se movimentando no automático, quase sempre com pressa. Os mendigos na rua, a pobreza disparada, deixada ali a olho nu e cru para qualquer um ver e no meio disso as ilhas perdidas (bairros e ruas exclusivas) que afastam essa pobreza, a contradição, a desigualdade que tenta soar de forma invisível. As pessoas se acostumaram com crianças pedindo dinheiro, com a correria da vida, com andar mecanicamente pelos mesmos lugares, em aguentar trafego constante ou aturar 2 horas no transporte público para trabalhar ou para voltar a noite cansado para casa. Todos meus amigos me disseram que era falta de costume, que eu precisava de um tempo de adaptação, mas isso era o que não queria, fiquei com medo de realmente me acostumar com tudo aquilo  que eu acho triste e errado, fiquei aborrecida em perceber que certamente se eu passasse ali mais tempo eu iria normalizar tudo aquilo que pareceu assustador aos meus olhos. Nunca na minha vida uma música fez tanto sentido, até essa semana não tinha levado a sério o Criolo com sua música " Não existe amor em SP", mas na minha cabeça ela é a maior definição de São Paulo, é um retrato fiel do que eu senti ao pisar lá, foi a trilha sonora dessa minha experiência.
Saí de São Paulo satisfeita, não por causa de toda a pobreza que vislumbrei, nem por causa de toda a cultura que adquiri, mas sim pela a viagem de autoconhecimento que a experiência me proporcionou, descobri algumas coisas que eu não sabia sobre mim mesma. Não tenho perfil para morar numa metrópole, sou mais sensível do que imagino e agora sei mais sobre mim, sobre meus roteiros de viagem e tudo isso me possibilitou também uma viagem interior, que me mostrou sentimentos, sensações e vontades antes não exploradas. 
SP valeu apena, na cidade pode não existir amor, mas em todos os dias que fiquei lá existiu amor dos meus amigos. Fiquei com pessoas incríveis, visitei lugares únicos e matei a saudade de amigas especiais que fizeram do meu intercâmbio no começo do ano, um grande sonho.  
Ficou uma única dúvida: Será Criolo que "não precisa sofrer para saber o que é melhor para você"?

sábado, 20 de agosto de 2016

Um insight sobre relacionamentos


Hoje eu tive um insight tão grande que ainda estou com dor no coração de pensar nele. Antes de hoje acreditava que insights seriam sempre bons, porém nem sempre são, o exemplo disso é a história que vou contar.
Quem me conhece sabe que um dos meus maiores sonhos é ser mãe, ter uma família feliz e por mais que deseje muito isso sou aquela pessoa bem de boa, que está vivendo a vida sozinha e que quer abraçar o mundo inteiro nos próximos anos. Tenho uma série de planos do qual envolve mudar de cidade, fazer um mestrado em outro lugar, viajar o mundo, morar por um tempo em outro país, talvez fazer outra faculdade, conhecer diferentes pessoas e por aí vai. E enquanto estou pensando/planejando/querendo tudo isso, a maior parte dos meus amigos começaram a namorar, estão fazendo planos para casar, pensando no emprego que vão ter, muitas vezes pelo resto de suas vidas. E tento a todo momento não me sentir deslocada, mas as vezes é inevitável e acabo me sentindo. Uma das coisas que mais me incomodava nos últimos anos era estar sozinha, engraçado pensar nisso agora, demorei um bom tempo para conseguir assumir isso para mim, talvez eu quisesse estar com alguém porque todas as minhas amigas estavam, porque cresci ouvindo contos de fadas, minha família sempre teve relacionamentos perfeitos para me inspirar ou mesmo porque sempre tive o desejo de casar e ter filhos. De um tempo para cá essa vontade passou, acho que as vezes ela continua dentro de mim, mas outras coisas passaram a ser mais importantes e acredito que ela deixou de ser a prioritária. Sempre disse que estava bem e feliz sozinha, muitas vezes foi da boca para fora, mas desde o final do ano passado digo isso de verdade, nunca fui tão sincera na minha vida. 
Mas voltando ao insight, ele aconteceu hoje, mas o que lhe desencadeou foi uma série de acontecimentos dessa semana. O primeiro foi um amigo que me surpreendeu perguntando se não podíamos ser mais que amigos, fiquei chocada/surpreendida e até agora tenho vontade de rir/chorar. O segundo foi uma amiga me falando uma coisa que nunca ninguém tinha falado para mim e que me fez me enxergar de outra forma. Eu e ela estávamos escrevendo sobre o futuro amoroso dos nossos amigos (tipo uma aposta, sobre o caminho que cada um seguiria), daí no final eu fiquei de falar sobre o que pensava sobre ela e a mesma ficou de escrever sobre meu futuro. Eis que ela me diz que me imagina me estabilizando profissionalmente primeiro, tendo minha casa, dinheiro, viagens e títulos (obrigada por incentivar minha carreira acadêmica) e só depois pensando em namorar/conhecer alguém para constituir uma família ("Bia te acho tão independente, que não consigo te imaginar com alguém tão cedo, porque parece que não, mas quando estamos com alguém temos que abdicar de algumas coisas e não consigo te imaginar assim"). Caramba fez todo sentindo do mundo na minha cabeça e eu nunca tinha refletido sobre isso. No primeiro momento isso parece ótimo né? Mas várias coisas estão passando na minha cabeça depois disso. Primeiro que eu podia dar uma chance para o meu amigo, mas não consigo por n motivos, um deles é justamente minhas prioridades agora serem outras, segundo minha amiga me mostrou uma lado meu que nem eu conhecia, mas parece bem verdadeiro.
Sempre quis estar com alguém, mas como vou estar com alguém querendo mudar de cidade, viajando o mundo sem internet, conhecendo novas pessoas, me apaixonando e desapaixonando por desconhecidos? Eu nunca tinha pensando antes que meus planos são egoístas, não egoístas no sentido negativo, mas por estar sozinha tracei planos que não englobavam mais ninguém além de mim e agora não quero me abdicar deles ou englobar outra pessoa, é como se não houvesse espaço, ou mais que isso é como se eu não quisesse fornecer esse espaço. No momento eu posso tomar minhas decisões sem pensar em mais ninguém, mas se tivesse uma pessoa nessa história, eu  não poderia. E o insight foi esse, caramba eu tenho dois desejos incongruentes, eu tenho vontade de estar com alguém, mas tem muitas coisas que eu quero fazer e que esse alguém não terá lugar. Eu nunca tinha pensado nisso, até o presente momento.
Eu sei que dá sim para estar com alguém que possa te acompanhar em todas as viagens/escolhas/aventuras que a vida te dá, a única questão é que talvez minhas aventuras/viagens/escolhas não foram pensadas para serem dividas com alguém e assim se eu tiver que dividir, um dos dois vai sair perdendo. A maior questão é que no presente momento não quero repartir minha independência e se não quero isso, não tem porque eu querer estar com alguém, antes de me resolver comigo mesma. Daí veio o insight para eu fechar a questão. Não tenho mais desejos incongruentes, porque um passou por cima do outro. Só quero ser feliz, e sei que consigo isso sozinha ou acompanhada, mas no momento minha felicidade é alcançar meus planos e para isso provavelmente estarei sozinha, deve ser porque tenho uma necessidade louca de provar para mim que sou mais forte do que acho e que consigo fazer as coisas sozinha. Preciso provar para mim mesma antes de tudo que sou dona de mim. (Assim minha amiga provavelmente vai acertar na sua profecia).

P.S.: Duas coisas importantes, publicar esse texto foi muito difícil, primeiro porque eu dificilmente falo sobre meus relacionamentos principalmente para pessoas que não são muito muito próximas de mim. A outra coisa importante é que eu adoro essa foto, tirei na praça do Por do Sol em São Paulo e enquanto estava vendo esse cenário pensei que eu poderia ser qualquer uma das duas mulheres da foto, mas que no momento eu preferia ser eu mesmo hahaha 

sábado, 16 de julho de 2016

Adeus Marcos...


Parecia sonho, mas foi realidade. Estou cansada de ler e ouvir das pessoas frases clichês como" O gigante acordou", "O dia que entrarei para os livros de história" e outras coisas do tipo. A questão não é se vangloriar por estar saindo para as ruas, a questão na verdade é muito mais ampla, é ir protestar não por 20 centavos, mas por seus direitos.
Ribeirão Preto, 20 de junho de 2013, foi o dia que participei de uma manifestação realmente grande. Ao chegar no ponto de encontro (Esplanada do Teatro Dom Pedro II) me deparei com uma multidão diversificada, mas que aparentemente tinha o mesmo objetivo: Cansados de ficar parados em suas casas estavam, nas ruas. Senti um clima de copa do mundo, mas pela primeira vez debatia-se um assunto sério. Pessoas que eu nem conhecia me ofereceram tinta para pintar o rosto, aceitei. Cheguei de rosto limpo e saí metaforicamente mais brasileira, com riscos verdes e amarelos na bochecha. No meio do caminho um menino cansou de segurar o cartaz que carregava e eu carreguei para ele, da mesma forma quando cansei passei para outra pessoa que também mal conhecia.
Fiquei juntamente com uma galera na comissão de frente(que foi um privilégio e um desprivilegio ao mesmo tempo), fomos aqueles juntamente com centenas de pessoas os primeiros a passar os comandos para uma multidão que passava de 25 mil pessoas. Nunca tinha visto o poder que um aglomerado de pessoas pode causar, os gritos cantados juntos, várias reivindicações, a pacificidade. Foram mais de 2 horas e meia de caminhada totalmente pacífica, bonita e organizada. Estava imaginando o quanto aquilo estava sendo uma experiência única para todos que estavam ali. Porém foi logo após todos cantarem o hino Nacional que a tragédia aconteceu. Um cruel (não tenho palavras para descrever) com um carro típico burguês, sem explicação nenhuma invadiu propositalmente a passeata e atropelou 4 jovens, jovens como eu. A cena horrível que prefiro não me lembrar... Podia ter matado várias pessoas, eu por exemplo, que estava tão perto, perto o suficiente para ver tudo). Uma passeata pacífica levou um jovem de 18 anos para um lugar melhor. Um lugar que não precisamos lutar por injustiças, que não se convive com pessoas loucas e cruéis. 
Ele descansa em paz, enquanto eu, as milhares de pessoas lá presentes, os familiares e amigos dele choramos aqui e lamentamos por esse desastre. E o que começou como um sonho terminou em milhares de pesadelos que invadem noites mal dormidas. O sangue no chão, o desespero, a correria das pessoas, o som do resgate, o medo ao pensar na dor da sua mãe, a revolta sentida pela vontade de querer justiça, os gritos de desespero, os soluços dos amigos que estavam tão perto. A percepção de que não devíamos estar protestando para conseguir coisas que segundo a constituição é dever do Estado nos oferecer. 
Adeus Marcos... Sinto tanto... Não sei o que dizer...

*Esse texto foi escrito alguns dias depois de uma manifestação em junho de 2013, eu tinha 16 anos na época e desde daquele dia sofro com as lembranças daquele dia infernal (sempre guardei esse texto simples com muito carinho, mas nunca quis mostrar para ninguém). Essa semana 3 anos depois, aconteceu um atentado na França em que um caminhão desgovernado invadiu a rua e matou dezenas de pessoas. A única coisa que eu conseguia pensar é que por algum tempo eu já havia sentido aquela sensação de desespero que os franceses e estrangeiros devem estar sentindo (e essa sensação foi uma das piores da minha vida).